O homem preso suspeito de envolvimento em um dos maiores ataques hackers ao sistema financeiro brasileiro é um operador de TI de 48 anos que começou como eletricista predial, foi técnico de instalação de TV a cabo e entrou na faculdade de tecnologia aos 42.
João Nazareno Roque é funcionário da C&M, uma empresa que interliga bancos menores aos sistemas do Banco Central, como o PIX. Ele foi detido no bairro City Jaraguá, na Zona Norte da capital. A defesa dele não foi localizada pela reportagem.
Segundo a polícia, ele vendeu por R$ 5 mil a sua senha de acesso a um sistema sigiloso e depois, por mais R$ 10 mil, participou da criação de um sistema para permitir os desvios. Ele relatou ainda que só se comunicava com os criminosos por celular e não os conhece pessoalmente. Além disso, contou que trocou de celular a cada 15 dias para não ser rastreado.
O ataque cibernético que afetou pelo menos seis instituições financeiras causou alvoroço no mercado financeiro na quarta-feira (2).
Ao falar de sua trajetória profissional nas redes sociais, ele se apresenta como alguém que se destacou por “investir em um curso superior”, “com muita vontade e engajamento para aprender e agregar na tão sonhada recolocação na área”.
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“Tenho idade onde muitos esperam já estar em cargos c-level [liderança], mas estou aqui com muita vontade de recomeçar. Com o brilho nos olhos e disposição de um menino para dar o meu melhor, bem como aprender tudo o que puder”, escreveu ele ao falar sobre o ingresso na área de tecnologia.
Após o curso superior, que durou de 2020 a 2023, ele se tornou desenvolvedor back-end júnior, profissional responsável por construir e manter a parte dos sistemas projetados que não são visíveis para o usuário final.
Foi por conta dessa função na C&M que ele foi aliciado pelos hackers. Ele contou em depoimento à delegacia de Crimes Cibernéticos que foi abordado na saída de um bar na capital paulista para dar sua senha aos criminosos e rodar códigos no sistema para gerar as fraudes.
Suspeito recebeu R$ 15 mil
Em depoimento à polícia, Roque afirmou que o primeiro contato com os hackers aconteceu em março, quando um homem o abordou e demonstrou conhecer detalhes sobre seu trabalho.
Dias depois, ele recebeu uma ligação via WhatsApp com a proposta de entregar suas credenciais em troca de R$ 5 mil. Após o pagamento, João forneceu login e senha corporativos. Duas semanas depois, criou uma conta na plataforma Notion para receber instruções sobre como operar o sistema remotamente e, em seguida, passou a executar comandos a partir do próprio computador.
De acordo com o depoimento de Roque, ele recebeu dois pagamentos:
- R$ 5 mil pelo fornecimento do login e senha corporativos da empresa C&M. O pagamento foi feito via motoboy, que também recolheu os dados de acesso.
- R$ 10 mil por continuar inserindo comandos no sistema a partir do próprio computador, a serviço do grupo criminoso. Esse segundo valor também foi pago em notas de R$ 100, novamente via motoboy.
O que diz a C&M Software
A empregadora do suspeito informou em nota que segue colaborando com as autoridades competentes nas investigações.
“Desde o primeiro momento, foram adotadas todas as medidas técnicas e legais cabíveis, mantendo os sistemas da empresa sob rigoroso monitoramento e controle de segurança”, diz trecho do comunicado.
Segundo a empresa, a estrutura de proteção da CMSW foi decisiva para identificar a origem do acesso indevido e contribuir com o avanço das apurações em curso.
“Até o momento, as evidências apontam que o incidente decorreu do uso de técnicas de engenharia social para o compartilhamento indevido de credenciais de acesso, e não de falhas nos sistemas ou na tecnologia da CMSW. Reforçamos que a CMSW não foi a origem do incidente e permanece plenamente operacional, com todos os seus produtos e serviços funcionando normalmente”, completou a C&M na nota.