
A vereadora de Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá, Ideiva Foletto (Cidadania), registrou um boletim de ocorrência contra o colega, vereador Marcos Paulista (PTB), nesta segunda-feira (14), por violência política contra a mulher durante uma sessão extraordinária no sábado (12/03/22), e pediu medida protetiva contra ele.
A sessão discutia a concessão de RGA (Revisão Geral Anual) para os servidores da educação municipal e, durante o debate, o vereador chamou a parlamentar de oportunista, hiena e disse que ela estava “aprendendo a mexer com pessoas de testosterona (hormônio masculino) avançada”, se referindo a ele.
A reportagem entrou em contato com o vereador, mas assessoria informou que ele está internado com dengue hemorrágica.
Vereadora, a senhora é uma oportunista. A senhora vem aqui falar que nós não somos capachos de prefeito. Eu quero dizer para todos que a senhora é ‘capacho’ do prefeito sim, porque eu disse aqui na sessão passada. Eu falei assim: ‘vereador vocês têm que ter coragem de encarar o prefeito, vocês têm que ter coragem de encarar a secretaria (…) o que a senhora sabe fazer aqui é isso, é roubar mérito, sair aqui como boa moça e parece uma hiena, o que a senhora mais sabe fazer, a primeira e única por gestos repetitivos”, disse o vereador.
Ideiva, que é vice-presidente da Câmara, disse que essa é a terceira vez que o vereador a ofende em sessões. “Essa foi a terceira vez que ele me ataca. Não adianta cobrarmos, se quando acontece com a gente, não reagirmos. Ele tem que respeitar a mulher. O presidente cortou o microfone ele continuou falando sobre aquela fala nojenta da testosterona”, afirmou.
Nas duas outras ocasiões, ela contou que ele a atacou porque ela estava cobrando agilidade no lançamento de um edital para a contratação de pessoal para atender o Conselho Tutelar. “Ele me chamou de mentirosa porque eu cobrei que fosse feita a seleção”, citou.
Outra vez, segundo ela, Marcos Paulista usou uma foto de aniversário de morte da mãe dela e divulgou dizendo que ela estava comemorando por quem não tinha ganhado casas populares sorteadas a moradores de baixa renda.
“As falas são sempre de cunho machista. É triste, é desonroso, sou mulher, sou mãe. Espero que alguma atitude seja tomada, porque não podemos permitir que as mulheres passem por isso. É violência contra a mulher. Em qualquer empresa, no mínimo, seria considerado um assédio moral”, disse.
Ideiva foi a segunda vereadora mais votada na última eleição. “Estou no primeiro mandato. Imaginei que não seria fácil, mas não a esse nível. As sessões são sempre ao vivo, mas isso não inibe eles de agredir”, declarou.
Ela é professora e formada em direito.
Se a medida protetiva for concedida, a vereadora disse que não sabe como será na prática, porque o colega não poderia manter contato com ela, nem na Câmara. “Temos imunidade parlamentar, mas dentro do projeto que está sendo discutido e ele passou desse limite”, pontuou.
Em defesa da vereadora
A Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiu uma nota em defesa da vereador e afirma que o parlamentar utilizou palavras depreciativas à mulher e revestidas de cunho machista. Para a entidade, a representação da mulher nesse cenário é um avanço para a conquista de espaço em todas as esferas.
“Toda fala ou ação enraizada de qualquer nível de preconceito, machismo, violência ou justiça será base de enfrentamento, defesa e busca por mudança. Enquanto comissão, atenta às expressões e atitudes desta natureza, não vai tolerar, em nenhuma hipótese, tais práticas”, diz.